“Nunca demos o passo maior que a perna"
Em grande atividade, sem problemas financeiros a Associação
Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Serpa pode orgulhar-se
do trabalho desenvolvido nos últimos anos e que lhe permite,
agora, encarar o futuro com otimismo.
Uma gestão musculada, “ao tostão” será, segundo os seus
dirigentes, o segredo desta instuição, numa região, onde
infelizmente, as perspetivas são pouco animadoras, onde
o voluntariado e os apoios escasseiam.
Em Serpa mais de meia centena de operacionais dão o seu melhor
em prol da comunidade, Podem contar com boas instalações
e equipamento adequado às exigências de uma área
de intervenção que tem como pontos negros o Parque Natural
do Vale do Guadiana, o IP8, o Açude do Pedrógão
e o centro histórico da cidade sede do concelho.
há meses que a conjuntura económica do País fez soar o alerta vermelho no Alentejo. Dizem os profetas da
desgraça que alguns dos quartéis da região têm mesmo os dias contados. Mas por enquanto, a anunciada hecatombe parece estar controlada, muito embora já tenha obrigado a estratégias de recurso, leia-se a
despedimentos.
Contrariando este cenário negro, na Associação humanitária dos Bombeiros Voluntários de Serpa fala-se do futuro com cautelosa tranquilidade, muito embora dirigentes e comando garantam sentir os efeitos da
austeridade, traduzida numa redução do número de transporte de doentes em cerca de “30 por cento”, segundo revela José Luís Palma Pires, o presidente da direção.
Atualmente, os Voluntários de Serpa ocupam boas instalações que enchem de orgulho os atuais dirigentes que aliás há já alguns anos gerem os destinos da instituição.
Conta-nos o presidente que abraçou esta causa num período crítico da instituição, muito
embora não tivesse qualquer ligação, era “apenas associado”
“Entrei sem experiência nenhuma em bombeiro, costumo dizer que assentei praça como general”, diz-nos o dirigente que confessa as primeiras impressões não foram de todo positivas, mas depois de “arrumada a casa” e devidamente definidas as funções de cada um, foi possível restabelecer as relações entre o comando e direção e dar início a um profícuo trabalho que permitiu preparar a instituição para estes tempos mais difíceis.
“Não temos grandes dificuldades, apenas as inerentes ao funcionamento diário de uma associação desta natureza mas que se vão resolvendo com a
colaboração de todos do comando da direção, do corpo ativo dos funcionários”, revela o presidente.
Questionado sobre o segredo da saúde financeira dos Bombeiros de Serpa, o dirigente é perentório:
“Nunca demos um passo maior que perna. Se temos dinheiro compramos, se temos menos adquirimos em segunda-mão. Quando não temos não fazemos, não gastamos!”Assim sendo, Luís Palma Pires faz questão de sublinhar que associação “não tem problemas económicos”.
“Não temos uma divida, um crédito, pagamos as faturas a 30 dias”, afiança para depois, em tom lamento confidenciar, que o único corpo de bombeiros do concelho “há três anos que não recebe um tostão da câmara municipal”
Os 50 mil euros que entravam nos cofres da associação “sempre aplicados integralmente na compra de equipamento” deixaram de beneficiar a associação e neste momento “autarquia paga apenas a um operador de central de comunicações do Gabinete Municipal de proteção Civil que os voluntários acolhem nas suas instalações e disponibiliza a verba para o pagamento dos elementos que integram a Equipa de Intervenção
permanente (EIp)”.
Depois do desabafo, o dirigente sublinha que apesar do otimismo, a redução do número de serviços inquieta a associação, não só em termos financeiros, pois teme que os cortes a direito não tenham em conta a saúde das gentes Serpa, na sua maioria idosos a necessitar cuidados e atenção especial.
“Há muita gente que deixou de ir aos tratamentos”, revela-nos o 2.º comandante Paulo
Silva, explicando que “são muito poucos os transporte para fisioterapia”. as ambulâncias dos
Voluntários de Serpa que, em média, transportavam 16 doentes para tratamento “agora não
mais que quatro”.
Mas porque a vertente do socorro de pessoas e bens não pode sofrer quebras dirigentes e comando falam com entusiasmo da três candidaturas ao Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN), “já aprovadas”, que vão permitir apetrechar o quartel com um novo Veículo Florestal de Combate a Incêndios (VFCI) e com um grupo energético de desencarceramento, pois “o serve a associação tem já 22 anos” e há
muito pedia reforma. ainda no âmbito QREN está agendado para breve o arranque da empreitada do novo parque de viaturas, intervenção que permitirá “separar os carros de incêndio da saúde”.
Refira-se que, recentemente, o quartel recebeu ainda, no âmbito de uma outra candidatura uma embarcação de socorro, bem como os equipamentos para equipa de mergulhadores dos Bombeiros de Serpa, que
ainda antes da chegada do barco já tinha recebido a necessária e imprescindível formação.
Como nos explica o comandante José abraços Cataluna “este era um anseio antigo, que
levou mesmo a associação a custear a atempada formação de uma equipa de cinco operacionais” , um investimento ditado pelo açude do Pedrogão e por algumas barragens existentes na área de intervenção do
corpo de bombeiros.
Outra das preocupações dos Voluntários de Serpa é o Ip8, um concorrido itinerário viário marcado por acidentes aparatosos a exigir a pronto e eficaz socorro. Numa outra vertente, o centro histórico da cidade também requer redobrada atenção. as acanhadas ruas e ruelas não permitem a circulação de veículos pesados pelo que em caso de incêndio os operacionais terão efectuar o combate apeado.
Em matéria de incêndios florestais o parque Natural do Vale do Guadiana, com terrenos muito acidentado, merece atenção especial dos bombeiros.
Fundada em 18 de julho de
1979 a associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Serpa pode “puxar pelos galões” de, em poucos anos, ter dado a volta à história, ultrapassado várias crises e consolidar-se, da mesma forma que
não esconde o orgulho de servir com eficácia cerca de 17 mil pessoas que, sublinhe-se, reconhecem o importante papel social da instituição, bem como o profissionalismo dos homens e mulheres que insistem em manter vivo o voluntariado neste concelho do território alentejano.
Palavra de presidente Domingos Fabela conhece bem a realidade
dos bombeiros, do associativismo, do voluntariado, mas é na qualidade de presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito de Évora que dá conta de uma “situação bastante preocupante”.
O dirigente federativo refere que o distrito conta, atualmente, com 15 associações que mobilizam cerca de 660 operacionais, poucos para as necessidades do território, ainda assim um número expressivo tendo em conta a crise que atinge, também, o voluntariado.apesar de considerar que as autarquias da
região estão sensibilizadas para a situação crítica que os bombeiros enfrentam, que até estão solidárias, muitas vezes também não conseguem garantir os apoios que as associações.
“No geral as relações são boas, mas insuficientes”, diz, dando como exemplo o concelho de Odemira, onde duas associações lutam com dificuldades, sem grandes apoios e a braços com
uma enorme área de intervenção e uma complexa e trabalhosa área florestal de muito difícil.
a debilidade económica das intuições está a lançar homens e mulheres no desemprego, garante Domingos Fabela, referindo que nos últimos tempos “cerca de 20 pessoas já foram dispensadas”.“a verdade é que temos falta de operacionais e solução para o problema deveria estar no voluntariado, mas a falta de incentivos está a afastar os jovens destas associações, por isso a eficácia na prestação do socorro às populações está dependente dos assalariados”, defende.
“Devo referir que o delegado regional da Juvebombeiro tem feito um bom trabalho, mas temos que incentivar e dar continuidade a este esforço para assegurar reforços aos quartéis do
distrito”
Garante que a federação está atenta e que tudo tem feito para mitigar carências, recordando uma recente candidatura ao QREN que permitiu que os corpos de bombeiros recebessem equipamento de proteção individual.
Sobre o futuro o responsável defende a necessidade de “reinventar, trilhar outros caminhos, promover iniciativas” para que as associações possam recuperar a sustentabilidade económica.
Numa outra vertente, Domingos Fabela faz questão de, em jeito de porta-voz das associações que representa, alertar para situação difícil em se encontra “uma população bastante envelhecida a necessitar de muitos cuidados, sem meios para pagar o transporte para as consultas e tratamentos.”
http://www.bombeirosdeportugal.pt/images/edicaopapel/2012/nov_2012.pdf