O que o levou a filmar ‘Alentejo, Alentejo’?
Sérgio Tréfaut – Este filme parte de uma iniciativa da Câmara de Serpa, que me convidou a fazer um trabalho sobre o cante alentejano. Ao princípio pensei que poderia haver pessoas melhores para o fazer mas, dada a insistência, e porque tenho uma relação muito forte com o Alentejo e com o cante, decidi que era um grande desafio.
– Qual foi o maior desafio?
– Transmitir em cinema a emoção que sinto quando oiço cante alentejano. Por outro lado, queria fazer jus à identidade alentejana e mostrar os seus valores numa altura em que o lixo, como a música pimba e as telenovelas, triunfa e o que tem história e beleza poética desaparece. Isso repugna-me! Quero mostrar estes valores, maneiras de ser e de utilizar a língua portuguesa. Portanto, o filme é um ato político.
– Está satisfeito com o trabalho?
– Quando vamos ao Alentejo e temos ovações de pé durante seis minutos sentimos que fomos recompensados. E este não é um filme só para os alentejanos, de modo algum...
– É para outros públicos?
– Se ganhou dois prémios no IndieLisboa, por um júri internacional, e se já está convidado para passar em cinco ou seis países, isso quer dizer qualquer coisa. Agora, do ponto de vista rítmico, não é um filme que traia o cante. Não fizemos videoclipes. Sinto-me respeitador dos tempos próprios sem que, em momento algum do filme, as pessoas se sintam aborrecidas.
– Este projeto surge quando o cante concorre a património imaterial da humanidade [decisão será conhecida em novembro].
– Estamos a promover um movimento à volta do cante. Uma ‘Rota do Cante’. Entre a estreia do filme [18 de setembro] e o anúncio da candidatura vamos ter muito cante pelas ruas de Lisboa e do Porto. E temos dez restaurantes de Lisboa associados, que criaram pratos especialmente ligados ao filme. Acredito muito no boca a boca deste filme e a minha fé é que esteja em cartaz até novembro.
http://www.cmjornal.xl.pt/cultura/detalhe/este_filme_e_um_ato_politico.html
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